“Em tudo isso Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma” (Jó 1:22).
A vida de Jó serve-nos de exemplo para
as muitas provas que atravessamos nos dias atuais. Embora a Bíblia
afirme, no princípio do livro, que Jó “era maior que todos do Oriente” (Jó 1:3),
o que ele veio a passar depois disso, foram dias de grande e
incalculável sofrimento. Tanto que, se fôssemos atribuir um título para o
livro de sua vida, dos sofrimentos desse homem, talvez o que mais se
aproximasse da realidade dele fosse “Livro das Provações”. Pois, no
Antigo Testamento, não consigo enxergar outro que tenha passado por tão
duras situações como Jó passou. Ele foi provado por DEUS em seus
limites, foi machucado, amassado, esteve à beira da morte, mas resistiu a
tudo com fé e perseverança: “em tudo isso, Jó não pecou nem atribuiu a Deus falta alguma”.
Um “ai, meu Deus” não ecoou da sua boca. Jó suportou tudo, todo o
sofrimento, sustentando a fé em um DEUS que era o centro da sua vida: “Não
veio sobre vós tentação, senão humana. E fiel é Deus, que não vos
deixará tentar acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará
também o escape, para que a possais suportar” (1 Coríntios 10:13).
Parece que o apóstolo Paulo, ao escrever esse versículo, não só estava
olhando para si próprio, para os dissabores que atravessava, como também
exortou os cristãos em Corinto a olharem para a vida de Jó. É nela que,
muitos anos depois, devemos nos espelhar…
A trajetória desse homem de DEUS inspira
lições importantes para a nossa vida. Apesar de ser um livro
considerado poético, a existência de Jó é inquestionável e reconhecida
pelos estudiosos. Jó existiu. Basta que leiamos o que está escrito em
Ezequiel para termos essa certeza: “Ainda que estivessem no meio
dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles pela sua justiça
salvariam apenas sua própria vida” (14:14). Se duvidarmos da
existência de Jó, teremos que fazer o mesmo em relação a Noé e Daniel. E
além de Jó ter existido, venceu todas as provações pelas quais foi
submetido.
O começo dessa história todos já
conhecem: satanás entra na presença de DEUS sem ser convidado e, a
partir dali, estabelece-se um diálogo entre ambos:
“Disse o Senhor a satanás:
- de onde vens?
Respondeu Satanás:
- de rodear e passear por ela.
Então disse o Senhor a satanás:
- observaste a meu servo Jó? Não há ninguém na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal.
Respondeu satanás ao Senhor:
- teme Jó a Deus em vão! Acaso não O
tens protegido de todos os lados a ele, a sua casa e a tudo o que tem? A
obra das suas mãos abençoaste, e os seus bens se multiplicaram na
terra. Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo o que tem, e ele
certamente blasfemará de ti na tua face!
Disse o Senhor a satanás:
- muito bem, tudo o que ele tem está no teu poder, mas somente contra ele não estenderás a mão (…)” (Jó 1:7-12).
Desse instante em diante, o escritor
narra que satanás saiu da presença de DEUS para executar o seu intento
maligno. Afinal, DEUS havia aceitado o desafio feito por satanás e o
autorizado a tirar tudo o que, segundo satanás, fazia com que Jó ainda
permanecesse de pé na presença de DEUS. Jó foi vítima da sua própria
fidelidade a DEUS. E Nosso SENHOR (usando uma expressão bem popular em
nossos dias) colocou as Suas mãos na fogueira, confiando de que Jó,
mesmo perdendo tudo, não abandonaria a sua fé. DEUS queria saber, em
outras palavras, se a fé do Seu servo era forte e segura por causa
somente das grandes riquezas que possuía. E essas riquezas não eram
apenas bens materiais, mas envolvia também uma outra bem maior: sua
família.
Satanás se incomodou tanto com Jó, a
ponto de entrar na presença de DEUS, porque, certamente, Jó zelava pela
família dele. Seus filhos viviam entregues ao pecado, talvez gostassem
de farras, prostituição e coisas parecidas. Assim Jó imaginava. Por
isso, orava continuamente, santificando-os na presença do SENHOR. E o
sofrimento de Jó tem início no exato instante em que seus filhos se
divertiam em um daqueles banquetes. Primeiramente, os bois e as jumentas
foram mortos à espada pelos sabeus. Em seguida, caiu fogo do céu,
queimando suas ovelhas e seus empregados. Depois os camelos, mais servos
e, por fim, sobreveio uma grande tempestade da banda do deserto sobre a
casa, culminando com a vida de todos os seus filhos. Só lhe restaram a
saúde e a esposa. Uma sequência de desastres invadiu a vida de Jó de uma
hora para outra. Mas como poderia isso ter acontecido, se ele era um
homem íntegro, reto, que temia a DEUS e se desviava do mal? Como tal
tragédia poderia vir a existir? Talvez fossem essas as perguntas que
saltavam da mente da sua esposa: “O Deus a quem tu serves só pode ser
extremamente injusto”.
A primeira atitude que Jó teve após
receber as tristes notícias foi a de se levantar, rasgar as suas vestes,
rapar a cabeça, lançar-se em terra, humilhado, para adorar ao Nome do
SENHOR. DEUS então nesse momento abre-lhe um sorriso de satisfação, de
quem as atitudes sinceras de Jó não eram mesmo atribuídas às suas
riquezas. DEUS se alegrou imensamente. Observe a breve oração que Jó fez
a DEUS de todo o coração: “Nu saí do ventre da minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (1:21).
No deserto, Jó confiou. Ele tinha plena confiança de que DEUS estava no
controle da sua vida, embora não entendesse direito o motivo por estar
passando tão grande aflição. Não tenho dúvida de que Jó tenha chorado;
mar de lágrimas tenha rompido dos seus olhos. Mas o coração dele estava
firme, convicto de que, qualquer que fosse o fim, DEUS estaria
executando a Sua vontade pura, perfeita e agradável. Existe algo mais
doloroso para um pai, que ama muito os seus filhos, vê-los todos
morrerem de uma hora para outra? Existe dor pior que a dor da morte? É a
dor por não sentir a fé salvadora em CRISTO JESUS. Pois, como bem Jó
apregoava em suas atitudes, o fim com CRISTO é o melhor que pode
existir.
Mas seus dissabores não cessaram por aí. Insatisfeito com a atitude de Jó, satanás então retorna derrotado à presença de DEUS.
“Disse o Senhor a satanás:
- de onde vens?
Respondeu satanás ao senhor:
- de rodear a terra, e passear por ela.
Então o Senhor disse a satanás:
- Observaste o meu servo Jó? Não há
ninguém na terra semelhante a ele. Homem íntegro e reto, que teme a Deus
e se desvia do mal. Ele ainda conserva a sua integridade, embora me
incitasses contra ele, para o consumir sem causa.
Respondeu satanás ao Senhor:
- Pele por pele! Tudo o que o homem
tem dará pela sua vida. Mas estende a tua mão, e toca-lhe nos ossos e na
carne, e ele certamente blasfemará de ti na tua face!
Disse o Senhor a satanás:
- Pois bem. Ele está em teu poder, mas poupa-lhe a vida” (Jó 2:2-6).
Satanás faz agora novo desafio a DEUS.
Ele queria, de todo jeito, vê Jó abatido, desistir de sua fé. E a
proposta dessa vez foi a de tirar-lhe a boa saúde. Doente, Jó não
aguentaria nem renderia graças ao SENHOR. Satanás então saiu “(…) da presença do Senhor, e feriu a Jó de chagas malignas, desde a planta do pé até o alto da cabeça” (vers. 7).
Mais dor, mais sofrimento na vida
daquele homem que já tinha perdido quase tudo o que possuía. O drama de
Jó parecia não ter fim. Geralmente, as pessoas sofrem por causa da
desobediência a DEUS, dos seus pecados. Os discípulos de CRISTO também
tiveram essa visão: “Rabi, quem pecou, este ou os seus pais, para
que nascesse cego? Jesus respondeu: nem ele pecou nem seus pais, mas
isto aconteceu para que se manifestem nele as obras de Deus” (João
9:2-3). No caso de Jó, o sofrimento tinha uma razão totalmente
diferente. Ele sofria porque era íntegro a DEUS e porque lutava pela sua
família. E DEUS podia confiar na fidelidade do Seu servo. Como seria
louvável se aprendêssemos, assim como Jó nos ensinou, a dar glória a
DEUS por tudo que nos acontecesse! Paulo também ensinou esse princípio
tão importante e indispensável para sermos vitoriosos: “Regozijai-vos
sempre; orai sem cessar; em tudo dai graças, pois esta é a vontade de
Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Tessalonicenses 5:16-18).
Agora Jó está doente, sem forças,
repleto de tumores malignos pelo corpo. Só lhe restava a mulher. Eis que
a sua única companhia, a sua esposa amada, com quem tinha se casado e
dividido todos os momentos felizes de sua vida, imbuído de um pensamento
maligno, aconselha seu marido desistir de DEUS e se matar: “Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2:9).
Que triste! Receber o estímulo da desistência exatamente de quem está
mais próximo de nós, de quem deveria ser o nosso oxigênio aqui na terra.
Quantos de nós passamos por uma situação parecida! Queremos nos manter
íntegros diante de DEUS nas lutas, nas adversidades, precisamos de força
e de apoio dos nossos parentes ou amigos mais achegados, porém é
exatamente deles que ouvimos a voz dizendo que não há mais jeito,
pedindo para pararmos. Se fosse aquela mulher a escolhida por DEUS para
se submeter às provas, certamente logo seria reprovada. Jó mesmo assim
não se intimida, busca do âmago a força necessária, e do coração a
sabedoria para respondê-la: “Como fala qualquer doida, assim falas
tu. Receberemos o bem de Deus, e não receberemos o mal? Em tudo isso não
pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2:10). Satanás ali recebeu o decreto de derrota definitiva na vida de Jó e nunca mais entrou na presença de DEUS para incitá-LO.
O deserto pelo qual você está
atravessando certamente é muito menor que o deserto de Jó. Talvez as
circunstâncias em sua frente estejam todas adversas; seus familiares,
amigos, irmãos e lideranças da igreja tenham pedido para você desistir,
afirmando que não há mais solução para o seu problema. Mas eu te digo
com toda a minha fé. O mesmo DEUS que provou a fé de Jó também está
provando a sua fidelidade com ELE. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hebreus 13:8).
Nunca mudou nem nunca mudará. Não desista! Tome uma só posição diante
de DEUS, assim como Jó tomou: “se eu perdi, foi porque o Senhor
permitiu, mas na frente ELE me restituirá”. Jó profetizou em meio ao seu
maior sofrimento: “Receberemos o bem de Deus…” (verbo no futuro), porque ele sabia que DEUS nunca desamparou os seus filhos fiéis. E assim foi feito: “Mudou
o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos. E deu o
Senhor a Jó o dobro de tudo o que antes possuíra. (…) Assim abençoou o
Senhor o último estado de Jó mais do que o primeiro (…)” (Jó 42:10 e 12).
DEUS também te abençoará se tão somente olhares para as atitudes de Jó e
conservares a tua fé. DEUS pôs as Suas mãos na fogueira por Jó e elas
saíram de lá intactas. Ora, vem, Senhor JESUS!